O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) criticou a proposta do governo federal de conceder bônus no exame para ingresso na residência médica aos recém-formados que atuarem na saúde pública após a graduação. O Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PVPAB), dos ministérios da Educação e da Saúde, irá conceder pontuação adicional no processo seletivo de 10% aos médicos que atuarem por um ano na rede pública e de 20% para quem trabalhar por dois anos. O Cremesp avalia que a proposta é desrespeitosa com os médicos recém-formados que estudam para serem aprovados na residência médica, que não tem vagas para todos e apresenta concorrência semelhante ao vestibular, e com a população, que receberá médicos “sem treinamento”. “A maioria dos médicos formados não tem condições de atender quando sai da faculdade. É um desrespeito, um privilégio e uma falta de consideração com os que estudam para ingressar na residência, porque os 20% vão fazer uma enorme diferença na hora da classificação”, destaca Renato Azevedo Júnior, presidente do Cremesp. O conselho avalia que o ingresso na residência médica deve ser por mérito.
Outro ponto criticado é a “supervisão presencial e a distância” que será dada aos médicos recém-formados que atuarem no programa. O Cremesp acredita que a prática médica é difícil de ser ensinada a distância. A entidade defende ainda que haja um plano de carreira atraente para fixar os médicos no serviço público e suprir a falta de médicos em áreas periféricas e pobres. Para o Conselho, ainda é necessário que seja criada uma avaliação externa ao final do curso de Medicina que mandaria de volta para a faculdade aqueles que não estivessem aptos a exercer a profissão. Em São Paulo, o Cremesp já aplica um exame aos recém-formados, porém voluntário. Na última edição, a prova prática registrou o pior resultado da história: 68% foram reprovados. À época do lançamento do programa que concede bônus nos exames de residência médica, o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital Corrêa Lima, afirmou que via o projeto como bastante positivo para formação dos futuros médicos. Ele ressaltou que era preciso ajudar os recém-formados com suporte de centros de referência e de telemedicina. Outro lado - A secretária-executiva da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação, Maria do Patrocínio, esclarece que o projeto começará com 2 mil vagas, praticamente em um formato piloto. “Vamos estudar o perfil das pessoas que aderirem ao sistema e avaliar o programa. O valor deste bônus pode e precisa ser discutido, mas ele foi acordado entre entidades médicas”, afirma. Para a secretária, que também é professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), há médicos formados com condições de trabalhar em unidades básicas de saúde, dando atenção primária à população. “São postos de saúde, não pronto-socorros movimentados como o Hospital das Clínicas, de São Paulo”, diz. O programa exige que os municípios tenham pontos de telemedicina funcionando para dar atendimento e treinamento aos médicos, prática que não acontece atualmente nas unidades básicas de saúde que já recebem profissionais recém-formados sem residência médica. “O Norte e o Nordeste do Brasil não têm muitas dúvidas sobre a necessidade de um programa como este. A resistência é quase exclusiva em São Paulo”, pondera Maria do Patrocínio
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